sábado, 11 de outubro de 2014

O Detetive Parker Pyne

“Você é feliz?” Se não for, consulte o Sr. Parker Pyne”
Diariamente no jornal inglês The Times, esse pequeno anúncio pode ser encontrado dentre as páginas de classificados. O responsável por ele é um ex-servidor público que passou anos examinando a índole e a alma humana compilando dados em sua repartição. Agora, em seu escritório, Parker Pyne, que não é propriamente um detetive, oferece a felicidade para as pessoas pois acredita que, ao saber o que torna alguém infeliz, prontamente saberá como produzir o efeito contrário.

Esse livro reúne algumas (e únicas) histórias desse “detetive” criado por Agatha Christie.
Alguns dos contos são até bastante interessantes, mas, no geral, são previsíveis e pouco criativos. Apesar de não ter apreciado como seus outros livros (esse foi o que menos gostei de todos os que li até hoje), ainda assim é uma obra com a inconfundível assinatura de Christie.

Ficha técnica:
Autor: Agatha Christie
Título original: Parker Pyne Investigates
Ano de publicação: 1934

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

A Metamorfose

Numa manhã, ao despertar de sonhos inquietantes, Gregor Samsa deu por si na cama transformado num gigantesco inseto. Estava deitado sobre o dorso, tão duro que parecia revestido de metal, e, ao levantar um pouco a cabeça, divisou o arredondado ventre castanho dividido em duros segmentos arqueados, sobre o qual a colcha dificilmente mantinha a posição e estava a ponto de escorregar.
Comparadas com o resto do corpo, as inúmeras pernas, que eram miseravelmente finas, agitavam-se desesperadamente diante de seus olhos.
Um clássico sobre o qual não sei o que dizer porque não sei se gostei ou não. É interessante, mas às vezes me perco nesses textos muito fantásticos tratados com tanta naturalidade.
Gregor Samsa é um rapaz, caixeiro-viajante, que certa amanhã acorda metamorfisado em um inseto gigante! E a história se desenvolve daí, dos acontecimentos, reações, comportamentos dos que o rodeiam depois da metamorfose.
Seus parentes têm medo dele, nojo... só a irmã se atreve a entrar no quarto, pra limpar e alimentar o irmão. Mas... Gregor era quem sustentava a família, e com o "pequeno" problema dele, que o deixa incapacitado de trabalhar, mãe, pai e irmã têm que se virar.
Acho que o que mais se sobressai nessa história é como o Gregor é, no fim, só o provedor da família. Eles dependiam dele, mas quando ele não pôde mais sustentar a família e eles viram que podiam se virar sozinhos, o Gregor já não era mais necessário, e o fim mostra exatamente isso.
Na verdade eu estou aqui lutando com o que escrever. A história é curta e sem qualquer trama paralela.
Talvez eu tenha dificuldades em saber se gostei ou não dessa história porque acho que prefiro coisas que são mais explícitamente ditas, deixadas claras, do que histórias em que tudo está lá de forma metafórica.

Ficha técnica:
Autor: Franz Kafka
Título original: Die Verwandlung
Ano de publicação: 1915

sábado, 28 de junho de 2014

O Menino do Pijama Listrado

Um de meus livros preferidos. Simplesmente incrível a forma com que foi escrito. Mostra a Segunda Guerra  Mundial sob a ótica de um menino de 9 anos, Bruno, que não tem a menor idéia do que está vivendo.

“Na escola todos conversaram um dia sobre seus pais, e Karl dissera que seu pai era quitandeiro, o que Bruno sabia ser verdade, porque o homem cuidava da quitanda no centro da cidade. E Daniel dissera que seu pai era professor, o que Bruno sabia ser verdade, porque o homem ensinava aos meninos maiores, dos quais era sempre melhor manter distância. E Martin dissera que seu pai era chef de cozinha, o que Bruno sabia ser verdade, porque, nas vezes em que o homem vinha buscar Martin na escola, sempre vestia bata  branca e avental xadrez, como se tivesse acabado de deixar a cozinha.
Mas, quando perguntaram a Bruno o que seu pai fazia, ele abriu a boca para dizer-lhes e então percebeu que ele próprio não sabia. Só era capaz de dizer que seu pai era um homem para ser observado e que o Fúria tinha grandes planos para ele. Ah, e que ele também tinha um uniforme fantástico.”
 

O livro começa com a mudança da família de Bruno da casa em que moravam para um campo de concentração nazista, que seu pai passaria a comandar a partir de então. Seu pai era rude e dava muito pouca atenção a ele e sua irmã, Gretel, tanto por ser muito ocupado como por dar valor excessivo a seu trabalho.
O que mais deixava Bruno triste, no entanto, era que seu pai não percebia que o estava separando dos melhores amigos que ele nunca mais teria. Além disso, ele não conhecia a nova casa. E se ela não tivesse as mesmas passagens secretas, os mesmos esconderijos? Como ele viveria assim, sem os amigos, sem sua enorme casa que ainda precisava de mais alguns anos para ser totalmente explorada?
Haja-Vista, como era conhecida a nova casa de Bruno, era muitíssimo menor do que a de Berlim, não tinha vizinhança nenhuma, só tinha vazio ao redor, não tinha seus melhores amigos de toda a vida. O único movimento que ele via era uma multidão cinzenta que ficava depois da cerca que separava o pátio de sua casa, às vezes cercada por homens com as mesmas roupas de seu pai.
O menino estava muito decepcionado com a mudança, tendo que conviver muito mais com sua irmã, já que não tinha mais nada para fazer, e ele a odiava. Gretel era um “caso perdido”.
Aos poucos, ele vai descobrindo formas de se divertir na nova casa, ou, melhor, ao redor da nova casa. O pátio era a única coisa onde ele conseguia exercer sua futura profissão de explorador. Então, ele inventa brinquedos, se suja, se diverte sozinho (e finalmente longe do monstro de sua irmã).
Pouco tempo depois, ele conheceu um menino (Shmuel) que vivia depois da cerca que separava o pátio de sua casa do mundo de pessoas logo ali. E então a história realmente começa, e é incrível.

Acho que eu não quero contar mais nada, nem falar mais nada, para não dar pistas. Só digo que o autor foi genial, simplesmente genial. A simplicidade que Boyne coloca na história, baseada na ingenuidade de um menino de nove anos, é encantadora.

Ficha técnica:
Autor: John Boyne
Título original: The Boy in the Striped Pyjamas
Ano de publicação: 2006

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Poder Absoluto

Pouco antes de ler “Poder Absoluto”, li, obviamente, a sinopse, que fala de “um ladrão escrupuloso, um advogado obstinado, um detetive que não aceita nenhum caso sem solução e um grupo de pessoas dispostas a qualquer coisa pelo poder”. É claro que me interessei. Um livro com um ladrão escrupuloso deve ser legal, mesmo que um pouco paradoxal, ainda mais quando é envolvido o presidente dos Estados Unidos na história, como um assassino. Ao menos chamativo o livro é, não há como negar.

Luther Whitney não era um ladrão qualquer. Ele roubava de pessoas muito ricas, sempre tentando não ser percebido e nunca ferindo alguém. Não roubava além daquilo que achava necessário para sua subsistência. Ele tinha 66 anos e aquele seria seu último furto, pois pretendia se aposentar com o dinheiro que arrecadaria após vender os itens retirados da casa do milionário Walter Sullivan.
Tudo fora minuciosamente planejado, a mansão Sullivan era perfeitamente conhecida. Sabia perfeitamente o que deveria fazer, mas não contava que um incidente inacreditável aconteceria enquanto invadia a mansão. O Sr. Sullivan estava viajando com sua esposa, portanto nada poderia frustrar seus planos, exceto…
Luther estava dentro da casa quando ouviu um barulho de carros se aproximando. Escondido dentro do cofre, que tinha em sua porta um espelho falso, permitindo-lhe a visualização completa do que acontecia dentro do quarto do casal, ele viu o que jamais gostaria de ter visto: um assassinato.
Não foi um assassinato qualquer, foi o Presidente dos Estados Unidos, Alan J. Richmond, junto com seus ‘tapa-furos’, quem matou Christy Sullivan, que deveria estar viajando com o marido, mas estava na verdade o traindo com nada menos que o Sr. Presidente.
Sem saber o que fazer, ele procurou por Jack Graham, ex-namorado de sua filha, a quem considerava como filho, para pedir ajuda de uma forma inusitada. Luther queria que Jack fosse seu advogado de defesa, mas não quis explicar a situação, alegando que só diria qualquer coisa se fosse extremamente necessário, pois era uma questão mais perigosa do que Jack poderia imaginar.
Kate Whitney não gostava do pai e se tornara promotora pública exatamente para punir pessoas semelhantes: criminosos. Jack Graham, antes de se tornar sócio de uma grande empresa de advocacia, havia sido defensor público. Profissões opostas que resultaram no final do romance alguns anos antes.
Jack descobre-se infeliz com sua vida de provável milionário, percebendo que teria sido mais feliz se tivesse casado com Kate. Pouco antes de seu encontro com Luther, ele a procura, o que acontece mais algumas vezes depois disso. A vida como sócio da empresa exigia mais falta de humanidade do que ele jamais percebera.

“Embora olhasse para a fachada da mansão, Jack não a via realmente. Só conseguia enxergar Kate Whitney em cada janela da construção de pedra.
Jennifer recostou-se nele e apertou seu braço. A dor de cabeça de Jack se transformou em pânico. Sua mente se recusava a funcionar. Sentiu a garganta seca e as pernas bambas. Delicadamente, fez a noiva soltar seu braço, se levantou e caminhou em silêncio até o carro. Jennifer deixou-se ficar sentada por alguns instantes. Seu rosto denunciava muitas emoções, mas a principal delas era a incredulidade. Depois se levantou e foi atrás dele, furiosa.
Sentada no Mercedes, a corretora, que os observava conversar atentamente, parou de escrever o contrato e contraiu a boca em sinal de desagrado.”

Confesso que achei a história meio exagerada no início, mas, depois, pensei: se o autor não exagerar, sai história? Não existem histórias reais mais mirabolantes do que as inventadas? Resolvi aceitar os exageros, mas aviso que eles existem.
Não sei se eu sou sortudo ou se gosto de (quase) tudo o que leio, mas são raros os livros que não gosto. De qualquer forma, esse foi um dos que mais me instigou, com uma narrativa simples, uma história bastante criativa e uma trama bem organizada. Não me decepcionou em nada, mas também não é muito surpreendente. Um excelente livro, que merece ser lido.

Ficha Técnica:
Autor: David Baldacci
Nome original: Absolute Power
Data de publicação: 1996

sábado, 14 de junho de 2014

Não Brinque com Fogo

Dave Gurney não era mais o mesmo. Ele se tornara ranzinza desde sua última investigação, em que quase morrera com um tiro na cabeça. Sentia dores de cabeça, tinha dormência em uma parte da mão e dores ocasionais, muito fortes, na lateral do corpo. Estava aposentado havia algum tempo, mas não parara de trabalhar em investigações.
De início, ele recebe uma ligação de Connie Clarke, uma repórter conhecida de Gurney que fez um trabalho sobre o investigador quando ele ainda estava na ativa. Connie queria sua ajuda. Sua filha, Kim, estava fazendo uma pesquisa para seu mestrado em jornalismo e começava a ter problemas, segundo ela, com seu ex-namorado. Por isso ela procuraria por Dave no dia seguinte. Ela precisava dele para investigar e ajudá-la no trabalho, já que ele tinha experiência com crimes.
O trabalho da jovem se tratava de pesquisar sobre as pessoas próximas de vítimas de assassinatos não solucionados, tendo escolhido como base para sua tese um crime que completava 10 anos, denominado “O Bom Pastor”, em que o assassino matava pessoas com o pretexto de que elas mereciam, pois, ao matá-las, deixava alguma representação da bíblia. Em uma carta aberta à população, ele disse, entre outras coisas:
Essa enorme injustiça é impelida pela ganância dos poderosos e pelo poder dos gananciosos. Mais ainda: o controle exercido por essa classe vil e voraz sobre a mídia – o principal motor de influência da sociedade – é praticamente absoluto. Os canais de comunicação (que em mãos livres poderiam ser agentes de mudança) são possuídos, dirigidos e infectados por megacorporações e indivíduos bilionários cujos interesses são motivados pela qualidade virulenta da ganância. Essa é a condição crítica que nos obriga a nossa conclusão inevitável, a nossa decisão clara e a nossas ações diretas.

Analisando o crime de 10 anos, Gurney começa a perceber diversas falhas nas investigações, que teve e continuava tendo muitas brigas de ego, entendendo que o rumo do inquérito havia sido manipulado pelo assassino, e as autoridades não perceberam, bem como não duvidaram em momento algum daquilo que concluíam.
Junto com isso, Kim Clarke começa a perceber que, na verdade, a emissora de TV que a ajudava queria apenas o ibope que seu trabalho traria, não importando a veracidade dos fatos. Então, ambos começam a lutar, separadamente, contra o sistema em que estavam inseridos.

Não Brinque Com Fogo é um livro bom e ponto. Não passa muito disso. Achei a personagem principal, Dave Gurney, muito bom, bem como a maioria dos personagens, mas a história é meio exagerada em todos os pontos, desde o seu início. em alguns momentos também achei que o autor enrolou demais para apresentar novidades na história, o que deixou a leitura para mim um pouco entediante.
John Verdon criou uma história bastante interessante, mas se empolgou um pouco em alguns trechos, deixando a história inverossímil em alguns momentos. Para quem gosta de livros de ação com fatos improváveis, esse é um ótimo livro. Eu não sou muito fã disso.

Ficha Técnica:
Autor: John Verdon
Nome original: Let the Devil Sleep
Ano de publicação: 2012


O Pacto

Ignatius Perish conhece Merrin Willians ainda criança. Um interesse mútuo que se transforma num namoro inseparável desde muito cedo. Ao chegarem a idade adulta, tendo que fazer escolhas de profissões e universidades, acabam encontrando o conflito na relação até então inabalável. Merrin se muda para estudar e a relação se torna à distância.
Certa noite, após uma briga entre os dois num bar em sua cidade natal, acontece algo inesperado e terrível: Merrin é estuprada e morta num trecho de floresta próximo à cidade. Obviamente, Ig, o namorado, é considerado o principal suspeito, mas é logo solto por falta de provas. O que não significa que todos da cidade não o considerem o culpado.
Ig leva esse estigma consigo. Apesar de vir de uma família abastada, de ser filho de um famoso músico e irmão de um famoso apresentador de TV, ele é evitado e pensa-se que ele conseguiu não ser preso exatamente por ter família influente.
Certa manhã, no entanto, Ig acorda transformado. A princípio ele não acredita e pensa se tratar de alucinação ou sonho: há um par de chifres em sua testa. Ele tenta se desfazer dos “apêndices” de várias formas, mas lá eles permanecem. E logo, ao interagir com outros, percebe que não é só uma mudança nele mesmo, os chifres provocam reações nos outros. A primeira é de horror e asco, mas logo as pessoas se vêem como hipnotizadas e transformam Ig em seu confessor: contam seus segredos mais vergonhosos, sórdidos, mesquinhos. E, dessa forma, ele acaba conseguindo descobrir a verdade sobre Merrin.
Virou a cabeça para um lado e para o outro, estudando-se no espelho, tocando os chifres repetidamente. A que profundidade chegava o osso? Será que havia raízes que se infiltravam até o cérebro? Quando pensou nisso, o banheiro escureceu, como se a lâmpada no teto tivesse piscado por um momento. No entanto, a escuridão estava em seus olhos, em sua cabeça, não nas lâmpadas. Ele agarrou a pia e esperou a fraqueza passar.
Então se deu conta. Iria morrer. Claro que iria morrer. Alguma coisa estava mesmo pressionando seu cérebro: um tumor. Os chifres não estavam ali de verdade. Eram metafóricos, frutos de sua imaginação. Ele tinha um tumor comendo seu cérebro e fazendo com que ele visse coisas. E, se já chegara a esse ponto, provavelmente era tarde demais para ser salvo.
A idéia de que iria morrer trouxe uma onda de alívio, uma sensação física, como a de subir para respirar depois de ficar submerso por muito tempo.
Joe Hill tem uma prosa simples porém rica, que flui facilmente e entrete, mas não é um texto bonitinho, com sentimentalismos e descrições amorosas, e sim algo mais rude, digamos, mais direto ao ponto.
As personagens dessa obra são pessoas possíveis, plausíveis, apesar da situação impensada. Há a versão delas quando crianças e suas partes adultas. Fazendo parte das personagens principais, além de Ig e Merrin, há ainda Lee, o amigo de infância dos dois, garoto que fascina Ig, apesar de, no começo, ser um empecilho entre ele e Merrin.
Além disso, há um quê de literatura policial em O Pacto, pois, ao desenvolver os chifres, Ig passa a descobrir fatos que o levam a desvendar o que aconteceu a Merrin.
O Pacto é um belo livro. Se é que “belo” é palavra que possa ser usada para descrever uma obra de Joe Hill. Uma mistura de fantasia e drama, é uma história de amor, amizade e traição contada de forma criativa e inusitada. Por isso talvez eu tenha gostado tanto, criatividade é algo que prezo bastante.

Ficha técnica
Autor: Joe Hill
Título original: Horns
Ano de publicação: 2010

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Noite Sem Fim


Acabo onde começo... Eis uma citação que tenho ouvido com freqüência. Soa bem, mas, na realidade, que significa?
Existe, porventura, um lugar determinado para onde se possa apontar, dizendo: "Tudo começou naquele dia, em tal momento e lugar, com tal acontecimento?"
Minha história talvez tenha começado quando vi, pendurado na parede do George and Dragon, um cartaz anunciando a venda em leilão da valiosa propriedade, denominada As Torres; (...)
Ou, sendo esta uma história de amor — e juro que o é — então, porque não principiar no lugar onde, pela primeira vez, avistei Ellie, de pé entre os escuros pinheiros do Campo do Cigano.
Dame Agatha Mary Clarissa Christie escreveu Noite Sem Fim nove anos antes de sua morte, sendo publicado pela primeira vez em 1967. A obra conta a história de Michael Rogers, um jovem meio perdido na vida que, ao ver o anúncio do leilão de uma propriedade chamada "As Torres", decide comparecer, mesmo sem ter condição alguma de dar algum lance para adquirir o terreno. Entretanto, é lá que o destino o faz conhecer Fenella Goodman, uma bela jovem. Logo a atração entre os dois cresce e ele descobre que Ellie, como a garota era chamada, era extremamente rica. Ambos seus pais haviam falecido e ela herdara milhões. E, tão logo Ellie atinge a maioridade, ela se transforma na Sra. Rogers. 
Após passarem um longo tempo viajando pelo mundo, Ellie e Mike vão morar na mesma propriedade do leilão onde se conheceram. Ellie a tinha comprado. E lá, com a ajuda de um arquiteto chamado Santonix, amigo de Mike, eles construíram uma casa magnífica, a "casa perfeita". Mas nada no mundo é perfeito. O terreno era assombrado por uma superstição. Seu nome original era "Campo do Cigano", e se dizia que coisas horríveis aconteciam àqueles que lá se atreviam viver, e até mesmo àqueles que somente estavam de passagem e tinham o infortúnio de cruzar aquelas terras, pois os locais acreditavam que um grupo cigano havia sido expulso de lá, deixando para trás a maldição. Ellie e Mike não se deixaram levar pelas histórias, mas logo coisas estranhas começaram a acontecer, de pedras atiradas pela janela, das quais os estilhaços acertam Ellie no rosto, até pássaros mortos enrolados em bilhetes ordenando que deixassem o local. No começo Ellie ficou assustada, mas Mike a demoveu da idéia de partir. Aquela era a casa deles, a casa que eles amavam e que saíra exatamente como queriam. Não a deixariam por motivo algum.
A vida de Ellie e Mike seguiria relativamente normal até Greta Anderson, acompanhante de Ellie e quem conseguira enganar toda a família dela para que Ellie fosse livre para conhecer seus próprios amigos, e por conseqüência Mike, ir visitá-los e nunca mais ir embora. Primeiro Ellie torce o tornozelo e precisa da ajuda de Greta, mas o que realmente a mantinha ao lado de Ellie era a dependência que esta sentia por ela, e isso só alimentava o ódio crescente de Mike. Ele detestava Greta com todas as forças, a queria longe de lá, mas Ellie parecia sempre tão mais segura e feliz com ela por perto que Mike nunca teve coragem de fazer algo mais drástico, além de simplesmente pedir para que Ellie a mandasse embora.
Greta parecia crer que a saúde de Ellie não era das melhores, e apesar do Dr. Shaw, o médico da localidade, afirmar que isso não era verdade, sempre a tratavam como se estivesse prestes a se quebrar em duas.
Estando no campo Ellie podia fazer uma das coisas que mais gostava: cavalgar. Na cidade próxima, Kingston Bishop, conheceu uma moça chamada Cláudia Hardcastle, que virou sua melhor amiga nas redondezas. Falavam muito sobre cavalos, cavalgavam juntas e compartilhavam da mesma alergia, a doença do feno. Não podiam chegar muito perto de cavalos que a alergia se manifestava, mas, com os medicamentos certos, podiam cavalgar sem problemas.
Numa bela manhã Mike acorda muito feliz, achando que aquele dia seria maravilhoso. Fenella sairia para cavalgar e ele iria à um leilão na cidade com o Major Philppot, um de seus amigos em Kingston Bishop. Ellie os encontraria para o almoço. É nesse momento em que as coisas mudam e o que, a princípio, parecia um simples acidente revela-se um crime monstruoso. 
Toda noite e toda manhã
Alguns nascem para o infortúnio
Toda manhã e toda noite
Alguns nascem para o deleite
Outros, para uma noite sem fim
A obra tem seu título tirado de um trecho de um poema do século XVIII, do poeta inglês William Blake, entitulado Augúrios da Inocência.

A própria autora escreveu em sua biografia que Noite Sem Fim estava entre suas obras favoritas, pelo protagonista perturbado e por personagens que, ao se depararem com possibilidades de escolha, resolvem seguir o caminho errado, e que, no fim das contas, se ressentem das escolhas que fizeram. 

Basicamente, e diferentemente da maior parte das obras de Agatha, Noite Sem Fim é um relato, uma narrativa dos acontecimentos até o crime ser cometido, e então suas conseqüências e desfecho. É um suspense psicológico, sombrio e, algumas vezes, assustador. O narrador é o próprio Mike, e não há, como nas outras obras da autora, o detetive em busca de pistas porque até bem perto do fim da história não há pistas para serem coletadas, e sim indícios de que algo nada bom está para acontecer.

O que realmente me faz adorar a história é o princípio básico de que nem tudo é exatamente aquilo que parece ser, mas muitas vezes realmente é. A nossa visão dos fatos, dos acontecimentos, enfim, do mundo, geralmente é turvada por aquilo que queremos ver, projetamos nossos ideais no mundo e muitas vezes, quando eles nos são refletidos de volta, nos contentamos com esse reflexo sem questionar nada. Algumas vezes, isso pode ser fatal.

Sem dúvidas, é o livro mais menosprezado da Agatha. Um livro talvez “mal lido” pelos fãs da autora. Aqueles acostumados com as fórmulas das histórias de Hércule Poirot e Miss Marple talvez não consigam encarar esse livro como um dos melhores dela exatamente por fugir dessas fórmulas. Ele precisa ser lido sem esse preconceito, precisa ser lido como se não fosse uma obra de Agatha Christie. Adoro Poirot, gosto da fórmula da Agatha, mas esse livro, que é diferente de quase tudo que ela escreveu, é simplesmente perfeito. Tudo se encaixa, tudo tem resposta. E, no fim, alguns realmente nascem para o deleite e outros para noite sem fim.

Ficha técnica
Autor: Agatha Christie
Título original: Endless Night
Ano de publicação: 1967

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Sem Deixar Rastros


– Por favor, procure se comportar.
– Eu? – disse Myron. – Sou um amor de pessoa.
(...)
Calvin Johnson parou diante da porta de uma das tribunas de luxo.
– Você vai estranhar um pouco esta conversa – disse. – Procure dançar conforme a música.
– Tudo bem.
Calvin alcançou a maçaneta e respirou fundo.
– Clip Arnstein, o proprietário dos Dragons, está esperando por nós.
– E mesmo assim não estou tremendo – disse Myron.
Calvin Johnson balançou a cabeça.
– Comporte-se.
Myron apontou para o próprio peito.
– Vim de gravata e tudo.

Hoje vou fazer diferente. Vou dar minha opinião primeiro: dos livros que li da série Myron Bolitar, esse foi o melhor, e isso não é pouco, já que adoro a série.

É sensacional. Myron é uma ex-promessa do basquete que parou de jogar por causa de uma séria lesão no joelho antes mesmo de começar uma temporada regular na NBA pelo Boston Celtics. Dez anos depois de ter sua carreira encerrada, ele estava formado em direito pela Universidade de Harvard e começava uma nova carreira, agora como representante de atletas em ascensão em diversos esportes.
Nesse livro, no entanto, Myron é contratado pelo New Jersey Dragons, time no qual jogava um dos maiores astros da NBA, Greg Downing, um antigo rival de Myron nas torneios de basquete universitário. Mas Downing estava desaparecido, e a contratação de Myron foi, na verdade, apenas de fachada. A idéia era que ele pudesse investigar sem levantar muitas suspeitas sobre o caso, pois os Dragons informaram à imprensa que Greg estava lesionado. Esse não seria um caso comum para Myron Bolitar, que já fora até agente do FBI, pois referia-se a seus traumas do passado.
Com ajuda de seus amigos Windsor Horne Lockwood III (Win) e Esperanza Diaz, Myron começa a vasculhar um passado nada agradável, que incluía sua lesão e outras rivalidades com Greg (eles disputaram até a namorada, que acabou se tornando ex-mulher e grande desafeto do astro do basquete)

A história se desenrola de forma bastante dinâmica e, como sempre, Harlan Coben deixa o leitor cada vez mais confuso, até que, de uma hora para outra, ele conta a verdade.
Eu gosto de livros policiais e de dramas. Quando um livro inclui investigação e drama, tem tudo para eu adorar. Foi assim que aconteceu com esse.
Harlan Coben é um excelente escritor, mas um pouco repetitivo às vezes. Nesse livro, ele não foi.

Ficha técnica:
Autor: Harlan Coben
Título Original: Fade Away
Publicação: 1996

quarta-feira, 4 de junho de 2014

O Jantar

Estive namorando esse livro desde que o vi pela primeira vez nas prateleiras da livraria. A sinopse era deveras interessante e apelava para o meu gosto por histórias. Parecia ser algum suspense que talvez viesse a ser revelado durante o dito jantar.
Ao iniciar a leitura, não me empolguei tanto quanto esperava. Até metade do livro, me vi meio confusa: a “ação” se passa durante um jantar entre dois casais num restaurante ostentoso da Holanda, mas a narrativa vai e volta entre acontecimentos presentes e passados.
Dois irmãos: um deles é o narrador; o outro, um político importante, candidato a primeiro-ministro e não muito querido aos olhos de nosso narrador. Duas famílias da classe média-alta holandesa que guardam um segredo em comum: seus filhos cometeram atos abomináveis juntos. Esse é o mote em que se centra a trama.
Em noites como essa Claire e eu aproveitamos ao máximo os momentos em que estamos a sós. É como se tudo estivesse em jogo, como se o jantar marcado fosse apenas um mal-entendido, como se fôssemos apenas nós dois na cidade. Se eu tivesse que dar uma definição de felicidade, seria esta: a felicidade não precisa de nada além dela mesma, não precisa ser sancionada. “Todas as famílias felizes se parecem, cada família infeliz é infeliz à sua maneira” é a frase de abertura de Anna Karenina, de Tolstói. A única coisa que eu poderia querer acrescentar a isso é que famílias infelizes — e, entre famílias, em especial o marido e a mulher infelizes — nunca são infelizes sozinhas. Quanto mais pessoas para comprovar, melhor. A infelicidade adora companhia. A infelicidade não suporta o silêncio, especialmente o silêncio desconfortável que se instala quando tudo é solitário.
Às vezes, tive a impressão de não saber bem o que estava lendo. Não é que eu o considere um livro ruim, mas pode tornar-se confuso pelas voltas que o narrador em primeira pessoa dá.
Na verdade, você espera simpatizar e ficar “do lado” daquele que se apresenta como o “mocinho” da história, e isso é o que acontece até esse narrador começar a se aprofundar em seu histórico e seus pensamentos, enfim, quando ele mostra como vê a vida.
É uma história de violência, por vezes gratuita e, na cabeça das pessoas, justificada; do que é considerado o bem e o mal; de consciência moral pelos seus atos.
Como não era o que eu esperava encontrar, acabei não gostando tanto quanto achei que gostaria, mas ainda assim é um bom livro.

Decepcionei-me, no entanto, com inúmeros erros de revisão do meio para o final. Parece-me que houve pressa em publicá-lo e erros de concordância, palavras repetidas e erradas espalham-se profusamente pelas páginas.

Ficha técnica
Autor: Herman Koch
Título original: Het Diner
Ano de lançamento: 2009

terça-feira, 27 de maio de 2014

Os Três


Escrito num formato de relato real, conta a história de 4 aviões que caem simultaneamente em continentes diferentes, no que viria a ser conhecida como Quinta-Feira Negra, matando quase todos a bordo. Salvaram-se apenas três crianças de maneira milagrosa: a carnificina dos acidentes suporia que ninguém poderia ter saído praticamente ileso deles, mas Jessica Craddock, Bobby Small e Hiro Yanagida conseguem o feito. Logo começam a surgir teorias sobre a sobrevivência dos três, seitas que acreditam em intervenção divina e aliens.
Elspeth Martins é a jornalista que recolhe textos, depoimentos etc. para a publicação de um livro que relata os acontecimentos desde os acidentes até o desfecho da história dela mesma.
Ao me aproximar, percebi que era uma criança. Um menino.
Ele estava agachado, tremendo violentamente, e pude ver que um dos seus ombros se projetava num ângulo que não era natural. Gritei para os paramédicos virem depressa, mas eles não me escutaram por causa do som dos helicópteros.
O que eu disse a ele? É difícil lembrar, mas deve ter sido algo como “Você está bem? Não entre em pânico, estou aqui para ajudar”
Era tão grossa a mortalha de sangue e lama cobrindo seu corpo que a princípio não percebi que ele estava nu – mais tarde disseram que suas roupas foram arrancadas pela força do impacto. Estendi a mão para tocá-lo. Sua carne estava fria, porém o que mais se esperaria com aquela temperatura, abaixo do ponto de congelamento?
Não sinto vergonha de dizer que chorei.
Enrolei meu casaco nele e, com o máximo de cuidado, peguei-o no colo. Ele encostou a cabeça no meu ombro e sussurrou “Três”. Ou pelo menos foi o que pensei. Pedi que repetisse, mas seus olhos se fecharam, a boca ficou frouxa como se ele estivesse dormindo a sono solto e me preocupei mais ainda em levá-lo para a segurança e mantê-lo quente antes que sofresse hipotermia.
Claro que agora todo mundo vive me perguntando: você viu algo estranho no menino? Claro que não! Ele havia acabado de passar por uma experiência horrível e o que eu notava eram sinais de choque.
Não concordo com o que algumas pessoas estão dizendo sobre ele. Que está possuído por espíritos raivosos, talvez dos passageiros mortos que invejam sua sobrevivência. Que ele mantém as almas furiosas dentro do coração.
Um livro estranho, um livro ótimo. A primeira metade é viciante, foi um dos poucos livros recentes que me fizeram ficar chateada de largá-lo para dormir ou trabalhar.
A estratégia de conduzir a história como um livro de não-ficção reunindo pontos-de-vistas de várias personagens me pareceu muito criativa e funcionou perfeitamente no estilo da história.
É detalhado sem ser arrastado; detalhes interessantes, que dão a noção exata da cena sem ser um guia de como imaginar o que está sendo contado.
A única parte que eu não gostei muito foi da parte “oriental” da história. As transcrições das conversas de Chyioko e Ryu pela internet não me pareciam coerentes com o resto do texto. Porém, pensando pelo lado contrário, pode ser somente uma diferença de perspectiva, realmente uma visão de mundo diferente da ocidental.
É o tipo de livro que você precisa querer entender. Ou melhor, precisa saber que talvez não vá entender, que talvez não vá ter um final claro e definitivo. O interessante é o desenrolar, as reações que alguns fatos geram, a "criatividade" daqueles que, ao não saberem como interpretar certos acontecimentos, preenchem as lacunas da maneira que melhor lhes convêm.

Ficha técnica
Autor: Sarah Lotz
Título original: The Three
Ano de publicação: 2014

domingo, 25 de maio de 2014

Assassinato no Beco

Uma obra de Dame Agatha Christie que reúne quatro contos protagonizados pelo célebre e singular Hercule Poirot.

“Assassinato no beco”, primeiro conto, e que dá título à coletânea, relata a história de um aparente suícidio durante a celebração da tentativa frustrada de assassinato do então rei britânico James I, conhecida como a Noite de Guy Fawkes, em que a população solta fogos rememorando o fato de que Fawkes tentara explodir a Casa dos Lordes.
Porém, o que realmente importa é que uma jovem viúva é encontrada morta por sua própria arma num quarto fechado enquanto a moça com quem divide a casa estava viajando.
É uma história bastante articulada e bem ao estilo Christie, com Poirot tendo seus lampejos de sabedoria e mistério.

“O Roubo Inacreditável” versa sobre o roubo de um projeto secreto de submarino.
Não é das histórias mais inventivas e também não é das melhores de Agatha, mas é a que mostra o lado mais cômico de Poirot, com suas atitudes afetadas e, por vezes, espalhafatosas.

“O Espelho do Homem Morto” foi a que mais gostei e a que me fez não querer largar o livro até terminá-la. Conta a história  de um homem excêntrico, apegado à família e seu título de nobreza e que pede ajuda de forma autoritária e inusitada à Poirot, que não resiste e aquiesce a uma visita à propriedade do cliente, mas que acaba por chegar tarde, pois, na mesma noite em que chega sem que quase ninguém saiba de sua vinda, seu anfitrião é encontrado morto em seu escritório.
Essa é mais uma das provas da mente inventiva da autora. Numa narrativa curta, ela conseguiu criar a atmosfera certa e desenvolver uma história sem furos e bastante verossímil.
- Pelo jeito que você descreveu - continuou Poirot - acho que ele deve ser muito vulnerável...
- Vulnerável? - perguntou o sr. Satterthwaite, que ficou surpreso por um momento. De modo geral ele não associaria essa palavra a Gervase Chevenix-Gore. Mas ele era um homem observador e de raciocínio rápido. Depois, disse com tranquilidade: - Acho que entendo o que quer dizer.
- Um Homem desse tipo está sempre envolvido numa armadura, que não se parece em nada com a armadura dos cruzados... é uma armadura de arrogância, orgulho, de completa autoestima. É uma armadura de proteção contra as flechas do cotidiano. Mas esse é o perigo: muitas vezes um homem de armadura sequer percebe que está sendo atacado. Levará tempo para ver, ouvir e até mesmo sentir.
“O Triângulo de Rodes” é a mais curta das histórias e, talvez por isso, a menos intensa e interessante. Narra a história de dois casais em férias na Itália e um assassinato cometido entre eles.
Poderia ter sido uma história bastante boa se tivesse sido mais desenvolvida. Ao ser tão curta, me parece um pouco falha e desinteressante.

No todo, mais um livro de Agatha Christie que merece ser lido.

Ficha técnica
Autor: Agatha Christie
Título original: Murder in the Mews
Ano de publicação: 1937

Desaparecido para Sempre

Pouco antes de morrer, a mãe de Will Klein revela a ele algo inesperado. Ken, seu irmão supostamente morto havia anos, estava, segundo ela, vivo. Ken era acusado de assassinato da ex-namorada de Will, Julie Miller, mas ninguém na família acreditava que ele tinha culpa. Sr. Klein, o patriarca, fazia o possível para manter a família judia unida, mas após o desaparecimento do irmão, 11 anos atrás, nada mais havia sido igual.
Pouco após a morte da mãe, Will encontra uma foto de Ken em algum lugar fora do país, sorrindo. Então, fica claro: ele estava realmente vivo.
Ele procura seu melhor amigo, Squares, para ajudar a desvendar esse mistério, enquanto muitas outras coisas acontecem ao seu redor. Sheila, seu grande amor, desaparece, acusada de homicídio pelo FBI, e ele começa a ser seguido por um antigo pesadelo de sua infância, que foi amigo de seu irmão: John Asselta, o Fantasma.
Will chega ao desespero quando descobre que Sheila morrera em um lugar distante. Ele entra em choque, não consegue reagir de imediato.
Ao invés de desistir de tudo, porém, ele não desiste e passa a investigar, ao lado de Katy Miller, irmã de Julie, o assassinato de 11 anos atrás, e ao lado de Squares, a morte de sua amada.
Aos poucos, a verdade vai aparecendo, e Will descobre que tudo aquilo que ele considerava como verdade absoluta pode estar errado.

No fim, a mais desagradável das verdades é preferível à mais bela mentira.
Quando comecei a ler esse livro, havia pegado emprestado, e sua capa dizia: “Harlan Coben mais de 50 milhões de livros vendidos em todo o mundo”
Imaginei que deveria ser um bom autor, portanto. Fiquei empolgado para ler o livro. Não me decepcionei em praticamente nada. Quando as cenas começaram a parecer inverossímeis, houve explicação. Para tudo houve explicação. Do meio para o final do livro, à exceção de um fato, tudo me surpreendeu e me deixou aturdido. Quando eu achava que a história estava terminada, mais revelações aconteciam.
Ao terminar o livro, um dos melhores que já li, precisei de tempo para processar as informações e fiquei chateado porque havia terminado, mas feliz por poder ter lido um livro tão incrível.
Nesse livro, começou minha caçada por livros do Harlan Coben.

Ficha técnica:
Autor: Harlan Coben
Título original: Gone for Good
Ano de publicação: 2002

sábado, 24 de maio de 2014

O Apanhador no Campo de Centeio

Na viagem de volta para casa mais cedo por ter sido expulso da escola e ter brigado com um colega, Holden Caulfield, um jovem problemático e abastado, tenta encontrar respostas e corrigir a confusão que lhe aflige a mente. 

Sou obrigada a dizer que não, eu não gostei do livro. Perguntei-me durante toda a leitura: "cadê o propósito?". Sim, é bem contado, mas, não sei explicar, parece faltar coisa ali. É tudo muito solto. Alguns podem dizer que já li depois de adulta e, portanto, já não consigo simpatizar com os sentimentos de Holden, mas... não me parece desculpa aceitável. 
Contado em primeira pessoa, é fácil perder-se nos pensamentos de Holden, e não de uma forma agradável. Você vê a história através dos olhos de um garoto chatinho pra caramba, é o que me parece. Gostei da idéia de ele querer ser o "apanhador no campo de centeio", uma metáfora interessante, mas é só disso que eu gostei sobre ele. E é a partir daí que dá pra perceber melhor o que aquela falação toda do Holden quer dizer. Ele é um adolescente, 16 anos, e não quer crescer. Ou melhor, ele tem medo. Todas as pessoas mais velhas que ele conhece são "falsas", portanto ele imagina que vai ficar assim também. Então, num dia a irmãzinha dele pergunta o que ele quer ser, alguma coisa que lhe dê prazer, e sem ter o que responder ele diz que quer ser um "apanhador no campo de centeio". As crianças sairiam pra brincar num campo de centeio, perto de um precipício, e correriam, correriam... a função dele seria "apanhar" as crianças para que elas não caiam do precipício. Disso eu gostei no livro, achei que é legal esse paralelo, porque na verdade o precipício é a passagem de criança pra adulto, e o Holden não quer ter que ver nenhuma criança se tornar mais um adulto falso. Mas as ações dele, as quais ele narra durante o livro, são idiotas. Parece que tudo o que ele faz é besta, e ele se martiriza, mas continua fazendo coisas bestas. 
A única coisa legal mesmo no livro é a irmã do Holden, a Phoebe. Ela, além de engraçadinha, é a pessoa mais coerente dali, e ela só tem 10 anos. 
Bom, resumindo, sei que o livro é um clássico, todo mundo exalta a maravilha que é, mas realmente não me agradou.

Ficha técnica
Autor: J. D. Salinger
Título original: The Catcher in the Rye
Ano de publicação: 1951

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Jack & Jill

Quando comecei a ler Jack & Jill, tinha uma espectativa boa, uma vez que seu autor, James Patterson, é um dos mais renomados da atualidade, tendo escrito mais de 100 livros e muitos best sellers. E o livro não começou mal, tendo a primeira cena já me deixado bastante interessado e intrigado. O autor colocou a personagem principal, Alex Cross, em uma encruzilhada: proteger as criancinhas (brutalmente assassinadas com pauladas no rosto) de seu bairro ou ajudar a desvendar a natureza dos criminosos que se denominavam Jack e Jill? Ele queria ajudar as crianças, mas seu superior, o arrogante senhor Pittman, decidiu que Cross trabalharia ao lado do FBI na investigação dos crimes do casal não identificado.
Não me agradava, para falar a verdade, ler um livro em que criancinhas fossem mortas brutalmente e o assassínio fosse descrito pelo autor (obviamente sem revelar a identidade do criminoso). Mas a história era intrigante e, para alguém que havia escrito cerca de 10 livros, aparentemente bem escrita.
Os problemas do livro, porém, começaram a surgir, e a leitura a ficar cada vez mais massante. As autoridades, ao investigar, cometeram erros que, sinceramente, nem eu cometeria. Falha do autor. Antes de ser assassinada, uma personagem participava de uma festa (foi o último lugar em que ela esteve). Saiu do local junto com um homem, mas não sem antes conversar com ele por algum tempo. Era uma pessoa importante e muito famosa, dificilmente passaria despercebida a conversa com o homem e sua saída. Mas, segundo o autor, ninguém a viu, ou melhor: ninguém foi sequer entrevistado das pessoas que participavam da festa. A história, depois, se desenrolou numa seqüência de, na minha opinião, erros do autor em ambas as tramas. Quase desisti da leitura, mas continuei. Li até o final, só pra poder dizer que li, não gostei e que não recomendo, de forma alguma, a leitura desse livro.
Não vou dizer que não gostei da personagem principal, o investigador Alex Cross, porque seria mentira. Gostei dos personagens, mas não gostei da trama. Achei ela péssima, para falar a verdade. Mal elaborada e com furos claros. Talvez James Patterson tenha livros realmente bons, mas esse não é um deles, e não sei se vou ler outro um dia.

Não à toa, Stephen King falou o seguinte, descrevendo Patterson:
“Um péssimo escritor muito bem sucedido.”

Ficha técnica:
Autor: James Patterson
Título original: Jack and Jill
Ano de publicação: 1996

quarta-feira, 21 de maio de 2014

O Caso dos Dez Negrinhos

Dez pessoas são convidadas, por conhecidos de pouco contato, para uma estadia em uma ilha. Na primeira noite, à espera do misterioso anfitrião durante o jantar, uma gravação revela acusações sobre os presentes. Todos são culpados de "pequenas ações", coisas que, em si, não foram consideradas crimes, mas que causaram grandes danos a outros. E então as mortes começam, uma a uma. Presos na ilha, sem comunicação com o continente, somente os dez convidados, um deles é o assassino. Quem?
Dez negrinhos vão jantar enquanto não chove. Um deles se engasgou e então ficaram nove.
Nove negrinhos vão dormir, mas nenhum está afoito. Um deles cai no sono, e então ficaram oito.
Oito negrinhos vão a Devon de charrete. Um não quis mais voltar, e então ficaram sete.
Sete negrinhos vão rachar lenha, mas eis: um deles se corta, e então ficaram seis.
Seis negrinhos em uma colméia trabalham com afinco. Um deles é picado, e então ficaram cinco.
Cinco negrinhos vão ao tribunal julgar um fato. Um deles foi condenado, e então ficaram quatro.
Quatro negrinhos vão ao mar. Um engoliu o arenque defumado de uma vez, e então ficaram três.
Três negrinhos vão ao zoológico ver leões e bois. O urso abraçou um, e então ficaram dois.
Dois negrinhos vão brincar ao sol, sem medo algum. Um deles se queimou, e então ficou só um.
Um negrinho aqui está a sós, apenas um. Ele então se enforcou, e não ficou nenhum.
Um livro magistral, na minha opinião. Li em dois dias: no primeiro, li quatro capítulos; no segundo, não consegui largar até terminar. O suspense é grande; o mistério, envolvente. Tanto que não espera-se ler novamente um livro que baseia-se num mistério pois, uma vez descoberto o assassino, qual a necessidade de uma segunda leitura? Li "O Caso dos Dez Negrinhos" três vezes, para ser exata.

Para o leitor de hoje, é preciso deixar-se levar pela época em que era perfeitamente simples ficar completamente sem contato com a "civilização" por dias em uma ilha. É preciso a imersão no contexto.

É uma obra que vai levando o leitor, e que, ao final, nos faz ver a genialidade de uma das melhores obras de Dame Agatha Christie, sendo seu livro mais vendido, e um dos mais vendidos no mundo.

Uma curiosidade é o título do livro. Escrito em uma época em que a segregação racial era ainda uma realidade, e baseado numa cantiga infantil que conta a história de 10 negrinhos, o título parecia adequado. Alguns anos depois, as editoras, achando o título levemente racista, o alteraram para "E Não Sobrou Nenhum".

Ficha técnica
Autor: Agatha Christie
Título original: Ten Little Niggers, depois alterado para And Then There Were None
Ano de publicação: 1939

terça-feira, 20 de maio de 2014

Os Filhos de Anansi

Os filhos de Anansi é um livro inicialmente muito estranho, que vai ficando cada vez mais estranho com o desenvolvimento da história genial criada por Neil Gaiman, que é, na minha opinião, um dos melhores escritores da atualidade, se não o melhor.
A história, como eu disse, começa de forma estranha. Em primeiro lugar, os capítulos têm títulos completamente pitorescos. Em segundo, há uma dedicatória feita a ninguém menos do que o leitor. Em terceiro, há um pai (Sr. Nancy) que sacaneia um filho (“Fat Charlie”) mesmo depois de morto. Em quarto, acho muito improvável que alguém tenha a capacidade de escrever um livro sobre alguém tão sem graça quanto o queridíssimo Fat Charlie, raramente chamado por seu nome (Charles), mesmo que ele fizesse de tudo para destruir o apelido dado pelo pai.

Na Flórida, Estados Unidos, o Sr. Nancy morre de uma forma bastante constrangedora (de acordo com o filho, que morava na Inglaterra para manter o pai à distância). Aconteceu num bar com karaokê, ele cantava para três belas moças quando teve infarto e, ao cair do palco, arrancou o tomara-que-caia da moça, que ficou com os seios à mostra.
Com o evento, Fat Charlie teve que retornar aos Estados Unidos para o sepultamento, coisa que não fazia há muitos anos. Além disso, descobriu que seu pai era Anansi, o deus da travessura, e que bastava falar com uma aranha que seu irmão apareceria (ele sequer sabia que tinha um irmão, nem tinha registros que pudessem explicar isso).
A partir disso, a vida de Fat Charlie vira do avesso, perdendo tudo o que tinha, e o desenrolar da história passa a ser cada vez mais interessante e engraçado. Há uma série de coincidências (muito) improváveis, mas que deixam o livro mais rico, havendo inclusive uma explicação do autor para os fatos.

Esse livro é de uma criatividade absurda por parte do autor, que não procura surpreender durante a narração dos fatos, me fascinando durante quase toda a leitura. Neil Gaiman usou, na maior parte do tempo, uma forma bastante irônica de narração, e, mesmo quando os fatos eram absurdos, a narração parecia totalmente casual, como se o que acontecia fosse absolutamente normal. As personagens da trama são vivos (mesmo quando razoavelmente mortos) e pouco óbvios, tornando a leitura fácil e agradável.

Ficha Técnica:
Autor: Neil Gaiman
Título original: Anansi Boys
Ano de publicação: 2005

As Relações Perigosas

Luxúria, orgulho, avareza, inveja, ira. Traição, intrigas, vingança, ódio.
As palavras acima definem um livro difícil de ler, não por conta de sua característica epistolar, mas por sua linguagem de época. O autor, Choderlos de Laclos, dizia que as cartas e os fatos contados eram verdadeiros, não havendo, porém, certeza sobre isso.
De qualquer forma, se os fatos não forem reais, só é possível dizer que isso aumentaria, e muito, a genialidade do que foi escrito. Personagens de características peculiares para a época (mas não incomuns nos dias de hoje), formam uma trama desenvolvida com base em características muito humanas, sendo elas ruins ou péssimas; boas, às vezes.

No século XVIII, a história se inicia com a saída da jovem filha da Sra. de Volanges, Cécile, de um colégio de freiras, pois estava prometida em casamento ao Conde de Gercourt. Essa promessa, no entanto, fez com que outras pessoas - em especial a Marquesa de Merteuil -, no desejo de vingança, se aproximassem da jovem e ingênua menina no intuito de acabar com o casamento e com a reputação do poderoso conde.
Logo que é informada sobre o casamento que se aproximava, a marquesa envia uma carta a seu aliado e amante Visconde de Valmont exigindo sua imediata volta a paris a fim de ajudá-la em sua vingança. O visconde, porém, ignora a ordem, afirmando que, além de ser uma empreitada fácil, estava com todas as atenções voltadas à conquista da Presidenta de Tourvel, pela qual se dizia apaixonado como nunca estivera. Sua amada, entretanto, era casada, recatada e religiosa.
Entra em cena, então, o Cavaleiro de Danceny que, mesmo sem saber, tinha a missão de conquistar e desonrar a jovem Volanges. Jovens e com muito em comum (incluída a ingenuidade), se apaixonam aos poucos, ainda que não entendessem bem o que acontecia.
A história, que tem como centro o desejo de vingança da Marquesa de Merteuil, se desenvolve cheia de reviravoltas e desfechos surpreendentes envolvendo o amor dos jovens, a luxúria do visconde, o ódio da marquesa e os sentimentos controversos das demais personagens, principalmente referentes aos ‘vilões’.

É possível que se pense que as palavras citadas no início do texto sejam comuns em grande parte dos livros e histórias de romance, e de fato devem ser. No entanto, a forma viva com que elas se fazem presente é que tornam fascinante a leitura do livro.
Esse foi um dos primeiros livros que li, tendo me apaixonado de pronto pela forma incrível de linguagem que ele me apresentava, com termos até então desconhecidos e, além de tudo, o uso de uma conjugação pouco comum hoje em dia: a segunda pessoa, tanto no singular como no plural.

Ficha técnica
Autor: Choderlos de Laclos
Título original: Les Liaisons Dangereuses 
Ano de publicação: 1782
Título alternativo: As Ligações Perigosas

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Você Está Sendo Vigiado

Em Você Está Sendo Vigiado, do autor americano Gregg Hurwitz, Patrick Davis é mais um dos sonhadores que foram parar em Los Angeles tentando uma chance em Hollywood. Aficionado por cinema, Patrick escreveu um roteiro que foi comprado e transformado em filme, o que seria o princípio de uma carreira como roteirista caso o astro principal do filme, e novo queridinho da América, não tivesse implicado com ele e feito com que o estúdio o demitisse de seu próprio filme e aberto um processo por agressão. Porém, esse é só o início dos problemas de Patrick. Ele começa a receber DVDs com gravações dele mesmo fazendo coisas do cotidiano, como dormir e ir ao banheiro. Sem qualquer ameaça ou chantagem, os vídeos apenas demonstram o que as pessoas por trás deles podem fazer. A partir dessas gravações é que se desenrola a trama cheia de reviravoltas de Hurwitz.
Mordendo os lábios, fiquei de pé e me arrastei escada acima, passando pelo escritório com vista para o enorme quintal dos Miller e indo até nosso quarto. Examinei o ombro no espelho: o ferimento no vídeo era no mesmo local e com o tamanho e a coloração idênticos. Abri minha gaveta no fundo do closet. Minha cueca azul de listras brancas estava logo em cima.
Tinha sido ontem.
Vesti-me e voltei para a sala de TV. Afastei a manta e o travesseiro, sentei-me no sofá e liguei o DVD outra vez. Duração do vídeo: um minuto e 41 segundos. Ainda que fosse uma piada de mau gosto, era a última coisa de que Ariana e eu precisávamos naquele momento.
Você Está Sendo Vigiado é um livro bom, com uma história interessante. No começo parece ser uma coisa, para parecer ser outra no meio e depois se descobre que não era nada daquilo.
Confesso que achei boa parte dele meio clichê, mas também confesso que costumo achar isso de quase tudo que envolva Los Angeles e a indústria do cinema. Cenas em que Patrick imagina o impacto e o simbolismo dos acontecimentos de sua própria vida são até coerentes para uma personagem que aspira ser roteirista, mas, mesmo assim, me parecem um tanto forçadas.
Achei as personagens meio rasas e caricatas. A esposa de Patrick é linda e perfeita, ele, o reflexo do anti-herói dos filmes.
A trama em si não é complicada de se acompanhar, apesar das reviravoltas. E, apesar de ser exagerada, a história é crível. Ainda assim, não consegui gostar tanto dela quanto uma descrição do que acontece poderia me fazer crer. Trocando em miúdos, acho que o autor não foi muito feliz na sua narrativa, ou, no mínimo, não é o tipo de narrativa que me agrada.
Um detalhe bastante interessante do livro, na verdade, são as notas de rodapé. A cada final de capítulo havia informações sobre as citações feitas de publicações, bandas de rock, times esportivos, marcas de carro e até de palavras bastante comuns do cotidiano como “lan house” e “post it”. Algumas pareceram desnecessárias, mas talvez sejam úteis para muitos.

Ficha técnica
Autor: Gregg Hurwitz
Título original: They're Watching
Ano de publicação: 2010