sábado, 14 de junho de 2014

O Pacto

Ignatius Perish conhece Merrin Willians ainda criança. Um interesse mútuo que se transforma num namoro inseparável desde muito cedo. Ao chegarem a idade adulta, tendo que fazer escolhas de profissões e universidades, acabam encontrando o conflito na relação até então inabalável. Merrin se muda para estudar e a relação se torna à distância.
Certa noite, após uma briga entre os dois num bar em sua cidade natal, acontece algo inesperado e terrível: Merrin é estuprada e morta num trecho de floresta próximo à cidade. Obviamente, Ig, o namorado, é considerado o principal suspeito, mas é logo solto por falta de provas. O que não significa que todos da cidade não o considerem o culpado.
Ig leva esse estigma consigo. Apesar de vir de uma família abastada, de ser filho de um famoso músico e irmão de um famoso apresentador de TV, ele é evitado e pensa-se que ele conseguiu não ser preso exatamente por ter família influente.
Certa manhã, no entanto, Ig acorda transformado. A princípio ele não acredita e pensa se tratar de alucinação ou sonho: há um par de chifres em sua testa. Ele tenta se desfazer dos “apêndices” de várias formas, mas lá eles permanecem. E logo, ao interagir com outros, percebe que não é só uma mudança nele mesmo, os chifres provocam reações nos outros. A primeira é de horror e asco, mas logo as pessoas se vêem como hipnotizadas e transformam Ig em seu confessor: contam seus segredos mais vergonhosos, sórdidos, mesquinhos. E, dessa forma, ele acaba conseguindo descobrir a verdade sobre Merrin.
Virou a cabeça para um lado e para o outro, estudando-se no espelho, tocando os chifres repetidamente. A que profundidade chegava o osso? Será que havia raízes que se infiltravam até o cérebro? Quando pensou nisso, o banheiro escureceu, como se a lâmpada no teto tivesse piscado por um momento. No entanto, a escuridão estava em seus olhos, em sua cabeça, não nas lâmpadas. Ele agarrou a pia e esperou a fraqueza passar.
Então se deu conta. Iria morrer. Claro que iria morrer. Alguma coisa estava mesmo pressionando seu cérebro: um tumor. Os chifres não estavam ali de verdade. Eram metafóricos, frutos de sua imaginação. Ele tinha um tumor comendo seu cérebro e fazendo com que ele visse coisas. E, se já chegara a esse ponto, provavelmente era tarde demais para ser salvo.
A idéia de que iria morrer trouxe uma onda de alívio, uma sensação física, como a de subir para respirar depois de ficar submerso por muito tempo.
Joe Hill tem uma prosa simples porém rica, que flui facilmente e entrete, mas não é um texto bonitinho, com sentimentalismos e descrições amorosas, e sim algo mais rude, digamos, mais direto ao ponto.
As personagens dessa obra são pessoas possíveis, plausíveis, apesar da situação impensada. Há a versão delas quando crianças e suas partes adultas. Fazendo parte das personagens principais, além de Ig e Merrin, há ainda Lee, o amigo de infância dos dois, garoto que fascina Ig, apesar de, no começo, ser um empecilho entre ele e Merrin.
Além disso, há um quê de literatura policial em O Pacto, pois, ao desenvolver os chifres, Ig passa a descobrir fatos que o levam a desvendar o que aconteceu a Merrin.
O Pacto é um belo livro. Se é que “belo” é palavra que possa ser usada para descrever uma obra de Joe Hill. Uma mistura de fantasia e drama, é uma história de amor, amizade e traição contada de forma criativa e inusitada. Por isso talvez eu tenha gostado tanto, criatividade é algo que prezo bastante.

Ficha técnica
Autor: Joe Hill
Título original: Horns
Ano de publicação: 2010

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