sábado, 28 de junho de 2014

O Menino do Pijama Listrado

Um de meus livros preferidos. Simplesmente incrível a forma com que foi escrito. Mostra a Segunda Guerra  Mundial sob a ótica de um menino de 9 anos, Bruno, que não tem a menor idéia do que está vivendo.

“Na escola todos conversaram um dia sobre seus pais, e Karl dissera que seu pai era quitandeiro, o que Bruno sabia ser verdade, porque o homem cuidava da quitanda no centro da cidade. E Daniel dissera que seu pai era professor, o que Bruno sabia ser verdade, porque o homem ensinava aos meninos maiores, dos quais era sempre melhor manter distância. E Martin dissera que seu pai era chef de cozinha, o que Bruno sabia ser verdade, porque, nas vezes em que o homem vinha buscar Martin na escola, sempre vestia bata  branca e avental xadrez, como se tivesse acabado de deixar a cozinha.
Mas, quando perguntaram a Bruno o que seu pai fazia, ele abriu a boca para dizer-lhes e então percebeu que ele próprio não sabia. Só era capaz de dizer que seu pai era um homem para ser observado e que o Fúria tinha grandes planos para ele. Ah, e que ele também tinha um uniforme fantástico.”
 

O livro começa com a mudança da família de Bruno da casa em que moravam para um campo de concentração nazista, que seu pai passaria a comandar a partir de então. Seu pai era rude e dava muito pouca atenção a ele e sua irmã, Gretel, tanto por ser muito ocupado como por dar valor excessivo a seu trabalho.
O que mais deixava Bruno triste, no entanto, era que seu pai não percebia que o estava separando dos melhores amigos que ele nunca mais teria. Além disso, ele não conhecia a nova casa. E se ela não tivesse as mesmas passagens secretas, os mesmos esconderijos? Como ele viveria assim, sem os amigos, sem sua enorme casa que ainda precisava de mais alguns anos para ser totalmente explorada?
Haja-Vista, como era conhecida a nova casa de Bruno, era muitíssimo menor do que a de Berlim, não tinha vizinhança nenhuma, só tinha vazio ao redor, não tinha seus melhores amigos de toda a vida. O único movimento que ele via era uma multidão cinzenta que ficava depois da cerca que separava o pátio de sua casa, às vezes cercada por homens com as mesmas roupas de seu pai.
O menino estava muito decepcionado com a mudança, tendo que conviver muito mais com sua irmã, já que não tinha mais nada para fazer, e ele a odiava. Gretel era um “caso perdido”.
Aos poucos, ele vai descobrindo formas de se divertir na nova casa, ou, melhor, ao redor da nova casa. O pátio era a única coisa onde ele conseguia exercer sua futura profissão de explorador. Então, ele inventa brinquedos, se suja, se diverte sozinho (e finalmente longe do monstro de sua irmã).
Pouco tempo depois, ele conheceu um menino (Shmuel) que vivia depois da cerca que separava o pátio de sua casa do mundo de pessoas logo ali. E então a história realmente começa, e é incrível.

Acho que eu não quero contar mais nada, nem falar mais nada, para não dar pistas. Só digo que o autor foi genial, simplesmente genial. A simplicidade que Boyne coloca na história, baseada na ingenuidade de um menino de nove anos, é encantadora.

Ficha técnica:
Autor: John Boyne
Título original: The Boy in the Striped Pyjamas
Ano de publicação: 2006

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Poder Absoluto

Pouco antes de ler “Poder Absoluto”, li, obviamente, a sinopse, que fala de “um ladrão escrupuloso, um advogado obstinado, um detetive que não aceita nenhum caso sem solução e um grupo de pessoas dispostas a qualquer coisa pelo poder”. É claro que me interessei. Um livro com um ladrão escrupuloso deve ser legal, mesmo que um pouco paradoxal, ainda mais quando é envolvido o presidente dos Estados Unidos na história, como um assassino. Ao menos chamativo o livro é, não há como negar.

Luther Whitney não era um ladrão qualquer. Ele roubava de pessoas muito ricas, sempre tentando não ser percebido e nunca ferindo alguém. Não roubava além daquilo que achava necessário para sua subsistência. Ele tinha 66 anos e aquele seria seu último furto, pois pretendia se aposentar com o dinheiro que arrecadaria após vender os itens retirados da casa do milionário Walter Sullivan.
Tudo fora minuciosamente planejado, a mansão Sullivan era perfeitamente conhecida. Sabia perfeitamente o que deveria fazer, mas não contava que um incidente inacreditável aconteceria enquanto invadia a mansão. O Sr. Sullivan estava viajando com sua esposa, portanto nada poderia frustrar seus planos, exceto…
Luther estava dentro da casa quando ouviu um barulho de carros se aproximando. Escondido dentro do cofre, que tinha em sua porta um espelho falso, permitindo-lhe a visualização completa do que acontecia dentro do quarto do casal, ele viu o que jamais gostaria de ter visto: um assassinato.
Não foi um assassinato qualquer, foi o Presidente dos Estados Unidos, Alan J. Richmond, junto com seus ‘tapa-furos’, quem matou Christy Sullivan, que deveria estar viajando com o marido, mas estava na verdade o traindo com nada menos que o Sr. Presidente.
Sem saber o que fazer, ele procurou por Jack Graham, ex-namorado de sua filha, a quem considerava como filho, para pedir ajuda de uma forma inusitada. Luther queria que Jack fosse seu advogado de defesa, mas não quis explicar a situação, alegando que só diria qualquer coisa se fosse extremamente necessário, pois era uma questão mais perigosa do que Jack poderia imaginar.
Kate Whitney não gostava do pai e se tornara promotora pública exatamente para punir pessoas semelhantes: criminosos. Jack Graham, antes de se tornar sócio de uma grande empresa de advocacia, havia sido defensor público. Profissões opostas que resultaram no final do romance alguns anos antes.
Jack descobre-se infeliz com sua vida de provável milionário, percebendo que teria sido mais feliz se tivesse casado com Kate. Pouco antes de seu encontro com Luther, ele a procura, o que acontece mais algumas vezes depois disso. A vida como sócio da empresa exigia mais falta de humanidade do que ele jamais percebera.

“Embora olhasse para a fachada da mansão, Jack não a via realmente. Só conseguia enxergar Kate Whitney em cada janela da construção de pedra.
Jennifer recostou-se nele e apertou seu braço. A dor de cabeça de Jack se transformou em pânico. Sua mente se recusava a funcionar. Sentiu a garganta seca e as pernas bambas. Delicadamente, fez a noiva soltar seu braço, se levantou e caminhou em silêncio até o carro. Jennifer deixou-se ficar sentada por alguns instantes. Seu rosto denunciava muitas emoções, mas a principal delas era a incredulidade. Depois se levantou e foi atrás dele, furiosa.
Sentada no Mercedes, a corretora, que os observava conversar atentamente, parou de escrever o contrato e contraiu a boca em sinal de desagrado.”

Confesso que achei a história meio exagerada no início, mas, depois, pensei: se o autor não exagerar, sai história? Não existem histórias reais mais mirabolantes do que as inventadas? Resolvi aceitar os exageros, mas aviso que eles existem.
Não sei se eu sou sortudo ou se gosto de (quase) tudo o que leio, mas são raros os livros que não gosto. De qualquer forma, esse foi um dos que mais me instigou, com uma narrativa simples, uma história bastante criativa e uma trama bem organizada. Não me decepcionou em nada, mas também não é muito surpreendente. Um excelente livro, que merece ser lido.

Ficha Técnica:
Autor: David Baldacci
Nome original: Absolute Power
Data de publicação: 1996

sábado, 14 de junho de 2014

Não Brinque com Fogo

Dave Gurney não era mais o mesmo. Ele se tornara ranzinza desde sua última investigação, em que quase morrera com um tiro na cabeça. Sentia dores de cabeça, tinha dormência em uma parte da mão e dores ocasionais, muito fortes, na lateral do corpo. Estava aposentado havia algum tempo, mas não parara de trabalhar em investigações.
De início, ele recebe uma ligação de Connie Clarke, uma repórter conhecida de Gurney que fez um trabalho sobre o investigador quando ele ainda estava na ativa. Connie queria sua ajuda. Sua filha, Kim, estava fazendo uma pesquisa para seu mestrado em jornalismo e começava a ter problemas, segundo ela, com seu ex-namorado. Por isso ela procuraria por Dave no dia seguinte. Ela precisava dele para investigar e ajudá-la no trabalho, já que ele tinha experiência com crimes.
O trabalho da jovem se tratava de pesquisar sobre as pessoas próximas de vítimas de assassinatos não solucionados, tendo escolhido como base para sua tese um crime que completava 10 anos, denominado “O Bom Pastor”, em que o assassino matava pessoas com o pretexto de que elas mereciam, pois, ao matá-las, deixava alguma representação da bíblia. Em uma carta aberta à população, ele disse, entre outras coisas:
Essa enorme injustiça é impelida pela ganância dos poderosos e pelo poder dos gananciosos. Mais ainda: o controle exercido por essa classe vil e voraz sobre a mídia – o principal motor de influência da sociedade – é praticamente absoluto. Os canais de comunicação (que em mãos livres poderiam ser agentes de mudança) são possuídos, dirigidos e infectados por megacorporações e indivíduos bilionários cujos interesses são motivados pela qualidade virulenta da ganância. Essa é a condição crítica que nos obriga a nossa conclusão inevitável, a nossa decisão clara e a nossas ações diretas.

Analisando o crime de 10 anos, Gurney começa a perceber diversas falhas nas investigações, que teve e continuava tendo muitas brigas de ego, entendendo que o rumo do inquérito havia sido manipulado pelo assassino, e as autoridades não perceberam, bem como não duvidaram em momento algum daquilo que concluíam.
Junto com isso, Kim Clarke começa a perceber que, na verdade, a emissora de TV que a ajudava queria apenas o ibope que seu trabalho traria, não importando a veracidade dos fatos. Então, ambos começam a lutar, separadamente, contra o sistema em que estavam inseridos.

Não Brinque Com Fogo é um livro bom e ponto. Não passa muito disso. Achei a personagem principal, Dave Gurney, muito bom, bem como a maioria dos personagens, mas a história é meio exagerada em todos os pontos, desde o seu início. em alguns momentos também achei que o autor enrolou demais para apresentar novidades na história, o que deixou a leitura para mim um pouco entediante.
John Verdon criou uma história bastante interessante, mas se empolgou um pouco em alguns trechos, deixando a história inverossímil em alguns momentos. Para quem gosta de livros de ação com fatos improváveis, esse é um ótimo livro. Eu não sou muito fã disso.

Ficha Técnica:
Autor: John Verdon
Nome original: Let the Devil Sleep
Ano de publicação: 2012


O Pacto

Ignatius Perish conhece Merrin Willians ainda criança. Um interesse mútuo que se transforma num namoro inseparável desde muito cedo. Ao chegarem a idade adulta, tendo que fazer escolhas de profissões e universidades, acabam encontrando o conflito na relação até então inabalável. Merrin se muda para estudar e a relação se torna à distância.
Certa noite, após uma briga entre os dois num bar em sua cidade natal, acontece algo inesperado e terrível: Merrin é estuprada e morta num trecho de floresta próximo à cidade. Obviamente, Ig, o namorado, é considerado o principal suspeito, mas é logo solto por falta de provas. O que não significa que todos da cidade não o considerem o culpado.
Ig leva esse estigma consigo. Apesar de vir de uma família abastada, de ser filho de um famoso músico e irmão de um famoso apresentador de TV, ele é evitado e pensa-se que ele conseguiu não ser preso exatamente por ter família influente.
Certa manhã, no entanto, Ig acorda transformado. A princípio ele não acredita e pensa se tratar de alucinação ou sonho: há um par de chifres em sua testa. Ele tenta se desfazer dos “apêndices” de várias formas, mas lá eles permanecem. E logo, ao interagir com outros, percebe que não é só uma mudança nele mesmo, os chifres provocam reações nos outros. A primeira é de horror e asco, mas logo as pessoas se vêem como hipnotizadas e transformam Ig em seu confessor: contam seus segredos mais vergonhosos, sórdidos, mesquinhos. E, dessa forma, ele acaba conseguindo descobrir a verdade sobre Merrin.
Virou a cabeça para um lado e para o outro, estudando-se no espelho, tocando os chifres repetidamente. A que profundidade chegava o osso? Será que havia raízes que se infiltravam até o cérebro? Quando pensou nisso, o banheiro escureceu, como se a lâmpada no teto tivesse piscado por um momento. No entanto, a escuridão estava em seus olhos, em sua cabeça, não nas lâmpadas. Ele agarrou a pia e esperou a fraqueza passar.
Então se deu conta. Iria morrer. Claro que iria morrer. Alguma coisa estava mesmo pressionando seu cérebro: um tumor. Os chifres não estavam ali de verdade. Eram metafóricos, frutos de sua imaginação. Ele tinha um tumor comendo seu cérebro e fazendo com que ele visse coisas. E, se já chegara a esse ponto, provavelmente era tarde demais para ser salvo.
A idéia de que iria morrer trouxe uma onda de alívio, uma sensação física, como a de subir para respirar depois de ficar submerso por muito tempo.
Joe Hill tem uma prosa simples porém rica, que flui facilmente e entrete, mas não é um texto bonitinho, com sentimentalismos e descrições amorosas, e sim algo mais rude, digamos, mais direto ao ponto.
As personagens dessa obra são pessoas possíveis, plausíveis, apesar da situação impensada. Há a versão delas quando crianças e suas partes adultas. Fazendo parte das personagens principais, além de Ig e Merrin, há ainda Lee, o amigo de infância dos dois, garoto que fascina Ig, apesar de, no começo, ser um empecilho entre ele e Merrin.
Além disso, há um quê de literatura policial em O Pacto, pois, ao desenvolver os chifres, Ig passa a descobrir fatos que o levam a desvendar o que aconteceu a Merrin.
O Pacto é um belo livro. Se é que “belo” é palavra que possa ser usada para descrever uma obra de Joe Hill. Uma mistura de fantasia e drama, é uma história de amor, amizade e traição contada de forma criativa e inusitada. Por isso talvez eu tenha gostado tanto, criatividade é algo que prezo bastante.

Ficha técnica
Autor: Joe Hill
Título original: Horns
Ano de publicação: 2010

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Noite Sem Fim


Acabo onde começo... Eis uma citação que tenho ouvido com freqüência. Soa bem, mas, na realidade, que significa?
Existe, porventura, um lugar determinado para onde se possa apontar, dizendo: "Tudo começou naquele dia, em tal momento e lugar, com tal acontecimento?"
Minha história talvez tenha começado quando vi, pendurado na parede do George and Dragon, um cartaz anunciando a venda em leilão da valiosa propriedade, denominada As Torres; (...)
Ou, sendo esta uma história de amor — e juro que o é — então, porque não principiar no lugar onde, pela primeira vez, avistei Ellie, de pé entre os escuros pinheiros do Campo do Cigano.
Dame Agatha Mary Clarissa Christie escreveu Noite Sem Fim nove anos antes de sua morte, sendo publicado pela primeira vez em 1967. A obra conta a história de Michael Rogers, um jovem meio perdido na vida que, ao ver o anúncio do leilão de uma propriedade chamada "As Torres", decide comparecer, mesmo sem ter condição alguma de dar algum lance para adquirir o terreno. Entretanto, é lá que o destino o faz conhecer Fenella Goodman, uma bela jovem. Logo a atração entre os dois cresce e ele descobre que Ellie, como a garota era chamada, era extremamente rica. Ambos seus pais haviam falecido e ela herdara milhões. E, tão logo Ellie atinge a maioridade, ela se transforma na Sra. Rogers. 
Após passarem um longo tempo viajando pelo mundo, Ellie e Mike vão morar na mesma propriedade do leilão onde se conheceram. Ellie a tinha comprado. E lá, com a ajuda de um arquiteto chamado Santonix, amigo de Mike, eles construíram uma casa magnífica, a "casa perfeita". Mas nada no mundo é perfeito. O terreno era assombrado por uma superstição. Seu nome original era "Campo do Cigano", e se dizia que coisas horríveis aconteciam àqueles que lá se atreviam viver, e até mesmo àqueles que somente estavam de passagem e tinham o infortúnio de cruzar aquelas terras, pois os locais acreditavam que um grupo cigano havia sido expulso de lá, deixando para trás a maldição. Ellie e Mike não se deixaram levar pelas histórias, mas logo coisas estranhas começaram a acontecer, de pedras atiradas pela janela, das quais os estilhaços acertam Ellie no rosto, até pássaros mortos enrolados em bilhetes ordenando que deixassem o local. No começo Ellie ficou assustada, mas Mike a demoveu da idéia de partir. Aquela era a casa deles, a casa que eles amavam e que saíra exatamente como queriam. Não a deixariam por motivo algum.
A vida de Ellie e Mike seguiria relativamente normal até Greta Anderson, acompanhante de Ellie e quem conseguira enganar toda a família dela para que Ellie fosse livre para conhecer seus próprios amigos, e por conseqüência Mike, ir visitá-los e nunca mais ir embora. Primeiro Ellie torce o tornozelo e precisa da ajuda de Greta, mas o que realmente a mantinha ao lado de Ellie era a dependência que esta sentia por ela, e isso só alimentava o ódio crescente de Mike. Ele detestava Greta com todas as forças, a queria longe de lá, mas Ellie parecia sempre tão mais segura e feliz com ela por perto que Mike nunca teve coragem de fazer algo mais drástico, além de simplesmente pedir para que Ellie a mandasse embora.
Greta parecia crer que a saúde de Ellie não era das melhores, e apesar do Dr. Shaw, o médico da localidade, afirmar que isso não era verdade, sempre a tratavam como se estivesse prestes a se quebrar em duas.
Estando no campo Ellie podia fazer uma das coisas que mais gostava: cavalgar. Na cidade próxima, Kingston Bishop, conheceu uma moça chamada Cláudia Hardcastle, que virou sua melhor amiga nas redondezas. Falavam muito sobre cavalos, cavalgavam juntas e compartilhavam da mesma alergia, a doença do feno. Não podiam chegar muito perto de cavalos que a alergia se manifestava, mas, com os medicamentos certos, podiam cavalgar sem problemas.
Numa bela manhã Mike acorda muito feliz, achando que aquele dia seria maravilhoso. Fenella sairia para cavalgar e ele iria à um leilão na cidade com o Major Philppot, um de seus amigos em Kingston Bishop. Ellie os encontraria para o almoço. É nesse momento em que as coisas mudam e o que, a princípio, parecia um simples acidente revela-se um crime monstruoso. 
Toda noite e toda manhã
Alguns nascem para o infortúnio
Toda manhã e toda noite
Alguns nascem para o deleite
Outros, para uma noite sem fim
A obra tem seu título tirado de um trecho de um poema do século XVIII, do poeta inglês William Blake, entitulado Augúrios da Inocência.

A própria autora escreveu em sua biografia que Noite Sem Fim estava entre suas obras favoritas, pelo protagonista perturbado e por personagens que, ao se depararem com possibilidades de escolha, resolvem seguir o caminho errado, e que, no fim das contas, se ressentem das escolhas que fizeram. 

Basicamente, e diferentemente da maior parte das obras de Agatha, Noite Sem Fim é um relato, uma narrativa dos acontecimentos até o crime ser cometido, e então suas conseqüências e desfecho. É um suspense psicológico, sombrio e, algumas vezes, assustador. O narrador é o próprio Mike, e não há, como nas outras obras da autora, o detetive em busca de pistas porque até bem perto do fim da história não há pistas para serem coletadas, e sim indícios de que algo nada bom está para acontecer.

O que realmente me faz adorar a história é o princípio básico de que nem tudo é exatamente aquilo que parece ser, mas muitas vezes realmente é. A nossa visão dos fatos, dos acontecimentos, enfim, do mundo, geralmente é turvada por aquilo que queremos ver, projetamos nossos ideais no mundo e muitas vezes, quando eles nos são refletidos de volta, nos contentamos com esse reflexo sem questionar nada. Algumas vezes, isso pode ser fatal.

Sem dúvidas, é o livro mais menosprezado da Agatha. Um livro talvez “mal lido” pelos fãs da autora. Aqueles acostumados com as fórmulas das histórias de Hércule Poirot e Miss Marple talvez não consigam encarar esse livro como um dos melhores dela exatamente por fugir dessas fórmulas. Ele precisa ser lido sem esse preconceito, precisa ser lido como se não fosse uma obra de Agatha Christie. Adoro Poirot, gosto da fórmula da Agatha, mas esse livro, que é diferente de quase tudo que ela escreveu, é simplesmente perfeito. Tudo se encaixa, tudo tem resposta. E, no fim, alguns realmente nascem para o deleite e outros para noite sem fim.

Ficha técnica
Autor: Agatha Christie
Título original: Endless Night
Ano de publicação: 1967

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Sem Deixar Rastros


– Por favor, procure se comportar.
– Eu? – disse Myron. – Sou um amor de pessoa.
(...)
Calvin Johnson parou diante da porta de uma das tribunas de luxo.
– Você vai estranhar um pouco esta conversa – disse. – Procure dançar conforme a música.
– Tudo bem.
Calvin alcançou a maçaneta e respirou fundo.
– Clip Arnstein, o proprietário dos Dragons, está esperando por nós.
– E mesmo assim não estou tremendo – disse Myron.
Calvin Johnson balançou a cabeça.
– Comporte-se.
Myron apontou para o próprio peito.
– Vim de gravata e tudo.

Hoje vou fazer diferente. Vou dar minha opinião primeiro: dos livros que li da série Myron Bolitar, esse foi o melhor, e isso não é pouco, já que adoro a série.

É sensacional. Myron é uma ex-promessa do basquete que parou de jogar por causa de uma séria lesão no joelho antes mesmo de começar uma temporada regular na NBA pelo Boston Celtics. Dez anos depois de ter sua carreira encerrada, ele estava formado em direito pela Universidade de Harvard e começava uma nova carreira, agora como representante de atletas em ascensão em diversos esportes.
Nesse livro, no entanto, Myron é contratado pelo New Jersey Dragons, time no qual jogava um dos maiores astros da NBA, Greg Downing, um antigo rival de Myron nas torneios de basquete universitário. Mas Downing estava desaparecido, e a contratação de Myron foi, na verdade, apenas de fachada. A idéia era que ele pudesse investigar sem levantar muitas suspeitas sobre o caso, pois os Dragons informaram à imprensa que Greg estava lesionado. Esse não seria um caso comum para Myron Bolitar, que já fora até agente do FBI, pois referia-se a seus traumas do passado.
Com ajuda de seus amigos Windsor Horne Lockwood III (Win) e Esperanza Diaz, Myron começa a vasculhar um passado nada agradável, que incluía sua lesão e outras rivalidades com Greg (eles disputaram até a namorada, que acabou se tornando ex-mulher e grande desafeto do astro do basquete)

A história se desenrola de forma bastante dinâmica e, como sempre, Harlan Coben deixa o leitor cada vez mais confuso, até que, de uma hora para outra, ele conta a verdade.
Eu gosto de livros policiais e de dramas. Quando um livro inclui investigação e drama, tem tudo para eu adorar. Foi assim que aconteceu com esse.
Harlan Coben é um excelente escritor, mas um pouco repetitivo às vezes. Nesse livro, ele não foi.

Ficha técnica:
Autor: Harlan Coben
Título Original: Fade Away
Publicação: 1996

quarta-feira, 4 de junho de 2014

O Jantar

Estive namorando esse livro desde que o vi pela primeira vez nas prateleiras da livraria. A sinopse era deveras interessante e apelava para o meu gosto por histórias. Parecia ser algum suspense que talvez viesse a ser revelado durante o dito jantar.
Ao iniciar a leitura, não me empolguei tanto quanto esperava. Até metade do livro, me vi meio confusa: a “ação” se passa durante um jantar entre dois casais num restaurante ostentoso da Holanda, mas a narrativa vai e volta entre acontecimentos presentes e passados.
Dois irmãos: um deles é o narrador; o outro, um político importante, candidato a primeiro-ministro e não muito querido aos olhos de nosso narrador. Duas famílias da classe média-alta holandesa que guardam um segredo em comum: seus filhos cometeram atos abomináveis juntos. Esse é o mote em que se centra a trama.
Em noites como essa Claire e eu aproveitamos ao máximo os momentos em que estamos a sós. É como se tudo estivesse em jogo, como se o jantar marcado fosse apenas um mal-entendido, como se fôssemos apenas nós dois na cidade. Se eu tivesse que dar uma definição de felicidade, seria esta: a felicidade não precisa de nada além dela mesma, não precisa ser sancionada. “Todas as famílias felizes se parecem, cada família infeliz é infeliz à sua maneira” é a frase de abertura de Anna Karenina, de Tolstói. A única coisa que eu poderia querer acrescentar a isso é que famílias infelizes — e, entre famílias, em especial o marido e a mulher infelizes — nunca são infelizes sozinhas. Quanto mais pessoas para comprovar, melhor. A infelicidade adora companhia. A infelicidade não suporta o silêncio, especialmente o silêncio desconfortável que se instala quando tudo é solitário.
Às vezes, tive a impressão de não saber bem o que estava lendo. Não é que eu o considere um livro ruim, mas pode tornar-se confuso pelas voltas que o narrador em primeira pessoa dá.
Na verdade, você espera simpatizar e ficar “do lado” daquele que se apresenta como o “mocinho” da história, e isso é o que acontece até esse narrador começar a se aprofundar em seu histórico e seus pensamentos, enfim, quando ele mostra como vê a vida.
É uma história de violência, por vezes gratuita e, na cabeça das pessoas, justificada; do que é considerado o bem e o mal; de consciência moral pelos seus atos.
Como não era o que eu esperava encontrar, acabei não gostando tanto quanto achei que gostaria, mas ainda assim é um bom livro.

Decepcionei-me, no entanto, com inúmeros erros de revisão do meio para o final. Parece-me que houve pressa em publicá-lo e erros de concordância, palavras repetidas e erradas espalham-se profusamente pelas páginas.

Ficha técnica
Autor: Herman Koch
Título original: Het Diner
Ano de lançamento: 2009