Escrito num formato de relato real, conta a história de 4 aviões que caem simultaneamente em continentes diferentes, no que viria a ser conhecida como Quinta-Feira Negra, matando quase todos a bordo. Salvaram-se apenas três crianças de maneira milagrosa: a carnificina dos acidentes suporia que ninguém poderia ter saído praticamente ileso deles, mas Jessica Craddock, Bobby Small e Hiro Yanagida conseguem o feito. Logo começam a surgir teorias sobre a sobrevivência dos três, seitas que acreditam em intervenção divina e aliens.
Elspeth Martins é a jornalista que recolhe textos, depoimentos etc. para a publicação de um livro que relata os acontecimentos desde os acidentes até o desfecho da história dela mesma.
Ao me aproximar, percebi que era uma criança. Um menino.Ele estava agachado, tremendo violentamente, e pude ver que um dos seus ombros se projetava num ângulo que não era natural. Gritei para os paramédicos virem depressa, mas eles não me escutaram por causa do som dos helicópteros.O que eu disse a ele? É difícil lembrar, mas deve ter sido algo como “Você está bem? Não entre em pânico, estou aqui para ajudar”Era tão grossa a mortalha de sangue e lama cobrindo seu corpo que a princípio não percebi que ele estava nu – mais tarde disseram que suas roupas foram arrancadas pela força do impacto. Estendi a mão para tocá-lo. Sua carne estava fria, porém o que mais se esperaria com aquela temperatura, abaixo do ponto de congelamento?Não sinto vergonha de dizer que chorei.Enrolei meu casaco nele e, com o máximo de cuidado, peguei-o no colo. Ele encostou a cabeça no meu ombro e sussurrou “Três”. Ou pelo menos foi o que pensei. Pedi que repetisse, mas seus olhos se fecharam, a boca ficou frouxa como se ele estivesse dormindo a sono solto e me preocupei mais ainda em levá-lo para a segurança e mantê-lo quente antes que sofresse hipotermia.Claro que agora todo mundo vive me perguntando: você viu algo estranho no menino? Claro que não! Ele havia acabado de passar por uma experiência horrível e o que eu notava eram sinais de choque.Não concordo com o que algumas pessoas estão dizendo sobre ele. Que está possuído por espíritos raivosos, talvez dos passageiros mortos que invejam sua sobrevivência. Que ele mantém as almas furiosas dentro do coração.
Um livro estranho, um livro ótimo. A primeira metade é viciante, foi um dos poucos livros recentes que me fizeram ficar chateada de largá-lo para dormir ou trabalhar.
A estratégia de conduzir a história como um livro de não-ficção reunindo pontos-de-vistas de várias personagens me pareceu muito criativa e funcionou perfeitamente no estilo da história.
É detalhado sem ser arrastado; detalhes interessantes, que dão a noção exata da cena sem ser um guia de como imaginar o que está sendo contado.
A única parte que eu não gostei muito foi da parte “oriental” da história. As transcrições das conversas de Chyioko e Ryu pela internet não me pareciam coerentes com o resto do texto. Porém, pensando pelo lado contrário, pode ser somente uma diferença de perspectiva, realmente uma visão de mundo diferente da ocidental.
É o tipo de livro que você precisa querer entender. Ou melhor, precisa saber que talvez não vá entender, que talvez não vá ter um final claro e definitivo. O interessante é o desenrolar, as reações que alguns fatos geram, a "criatividade" daqueles que, ao não saberem como interpretar certos acontecimentos, preenchem as lacunas da maneira que melhor lhes convêm.
Ficha técnica
Autor: Sarah Lotz
Título original: The Three
Ano de publicação: 2014








